terça-feira, 11 de março de 2008

CARTA DE ABRIL



Jornal da Polícia Internacional de Defesa do Estado

Ano 48.
Edição de 28 de Abril de 1974.



Carta do Director da Polícia Política


Caro dissidente político:

Começo por perguntar-lhe amigavelmente:
Onde stava você na noite de 25 para 26 de Abril?

Não é possível que tenha saído das nossas instalações sem dar explicações!
Depois de todos os esforços para o acolher bem, como é possível que nos pague desta forma a hospitalidade?

As estranhas razões que levaram a este levantamento violento e à fuga dos nosso convidados políticos surpreende-nos. E qual é a posição da nossa polícia política agora, pergunto-lhe? Muito delicada, respondo-lhe. É a posição de clandestinidade. Somos exilados e o nosso jornal e as nossas ideias circulam graças a uns poucos que se arriscam a denúncias e opressões.

Mas porquê caro cidadão?
- Por causa de umas poucas bastonadas?
Foi para seu bem.
- Pelas nossas aulas práticas e teóricas de recolha de informações?
Precisamos de contar consigo para conhecermos os que estão à nossa volta.
- Foi pelas visitas que fizemos a sua casa?
Mas o nosso conceito de democracia é o de visitar o cidadão e ouvi-lo.
- Foi por falarmos de conspiração?
Foi necessário para o testar e verificarmos se era uma pessoa de bons princípios para servir a Nação.

Tudo foi feito para o seu bem e sem malícia.
- Nunca o mantivémos preso, mas sim recolhido.
- Nunca fomos violentos mas sim austeros e disciplinados, como qualquer militar ou polícia deve ser para servir bem e ter brio na sua profissão.
Lembre-se de tantos colegas seus a quem oferecemos a possibilidade e incentivámos a viajar, a alargar horizontes e trazerem conhecimentos para engrandecer a Pátria. Se não se tivesse ausentado também você beneficiava. Mas isso não era exílio. Isto sim é.

Pense bem na nossa situação, no nosso longo serviço ao Estado, a lealdade em relação aos princípios que tanto nos esforçamos por defender: Deus, Pátria, Família, a Mocidade Portuguesa, as Colónias, a Educação. Tudo isto e muito mais são projectos que engrandecem a Nacção, tal como os Descobrimentos Portugueses o fizeram.

Não podemos deixar que militantes insatisfeitos, egoístas e inconsequentes destruam este Projecto maior e sublime.
Estamos a regredir e reina a indisciplina e o fervor popular.

Temos de restabelecer a ordem e contamos consigo.
Apelamos agora a uma demostração de amizade da sua parte.

Vamos endireitar o País e dissolver a Junta de Salvação Nacional, já!!!!!

Contamos consigo.

Bem haja.

Despeço-me com amizade.

Sr. Doutor Veiga de Oliveira Caetano.



Autor: Navegador
Data: Abril de 2001.

Sem comentários: