
Jornal da Polícia Internacional de Defesa do Estado
Ano 48.
Edição de 28 de Abril de 1974.
Carta do Director da Polícia Política
Caro dissidente político:
Começo por perguntar-lhe amigavelmente:
Onde stava você na noite de 25 para 26 de Abril?
Não é possível que tenha saído das nossas instalações sem dar explicações!
Depois de todos os esforços para o acolher bem, como é possível que nos pague desta forma a hospitalidade?
As estranhas razões que levaram a este levantamento violento e à fuga dos nosso convidados políticos surpreende-nos. E qual é a posição da nossa polícia política agora, pergunto-lhe? Muito delicada, respondo-lhe. É a posição de clandestinidade. Somos exilados e o nosso jornal e as nossas ideias circulam graças a uns poucos que se arriscam a denúncias e opressões.
Mas porquê caro cidadão?
- Por causa de umas poucas bastonadas?
Foi para seu bem.
- Pelas nossas aulas práticas e teóricas de recolha de informações?
Precisamos de contar consigo para conhecermos os que estão à nossa volta.
- Foi pelas visitas que fizemos a sua casa?
Mas o nosso conceito de democracia é o de visitar o cidadão e ouvi-lo.
- Foi por falarmos de conspiração?
Foi necessário para o testar e verificarmos se era uma pessoa de bons princípios para servir a Nação.
Tudo foi feito para o seu bem e sem malícia.
- Nunca o mantivémos preso, mas sim recolhido.
- Nunca fomos violentos mas sim austeros e disciplinados, como qualquer militar ou polícia deve ser para servir bem e ter brio na sua profissão.
Lembre-se de tantos colegas seus a quem oferecemos a possibilidade e incentivámos a viajar, a alargar horizontes e trazerem conhecimentos para engrandecer a Pátria. Se não se tivesse ausentado também você beneficiava. Mas isso não era exílio. Isto sim é.
Pense bem na nossa situação, no nosso longo serviço ao Estado, a lealdade em relação aos princípios que tanto nos esforçamos por defender: Deus, Pátria, Família, a Mocidade Portuguesa, as Colónias, a Educação. Tudo isto e muito mais são projectos que engrandecem a Nacção, tal como os Descobrimentos Portugueses o fizeram.
Não podemos deixar que militantes insatisfeitos, egoístas e inconsequentes destruam este Projecto maior e sublime.
Estamos a regredir e reina a indisciplina e o fervor popular.
Temos de restabelecer a ordem e contamos consigo.
Apelamos agora a uma demostração de amizade da sua parte.
Vamos endireitar o País e dissolver a Junta de Salvação Nacional, já!!!!!
Contamos consigo.
Bem haja.
Despeço-me com amizade.
Sr. Doutor Veiga de Oliveira Caetano.
Autor: Navegador
Data: Abril de 2001.

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